domingo, 21 de março de 2021

Risco X Segurança e Pandemia

Risco X Segurança e Pandemia


Neste post falaremos sobre os conceitos de Risco e de Segurança dentro da Saúde Pública e contextualizá-los no cenário atual de pandemia.


Quando pensamos em risco, geralmente, nos vem à cabeça a ideia de perigo, o relacionamos a desfechos negativos, o que se aproxima bastante da abordagem epidemiológica do conceito. Dentro da epidemiologia, o risco é a probabilidade de algum evento (enfermidade/agravo, mortalidade, gravidez, cura, etc) acontecer, e os indicadores mais usados para quantificar esses riscos são: Risco Absoluto ou Coeficiente de Incidência; Risco Relativo (RR) e o Risco Atribuível (RA)


  • O Risco Absoluto ou Coeficiente de Incidência é a proporção de eventos novos sobre o número de pessoas expostas ao risco da ocorrência do eventos, dentro de um intervalo de tempo. 


Exemplo: no Brasil até dia 28/02/2021 haviam sido registrados 10 milhões de casos de COVID-19; considerando a população brasileira de aproximadamente 200 milhões de pessoas, temos uma taxa de incidência de 10 milhões/200 milhões ou 5.020,9 casos a cada 100 mil habitantes. Ou seja, o Risco Absoluto de um habitante do Brasil adquirir o vírus covid-19 neste período foi de 5.020,9/100.000 (ou 5,02%).


  • O Risco Relativo (RR) é a proporção do risco entre dois grupos, mede a relação entre a exposição e o desenvolvimento do evento. Pode ser obtido a partir da razão entre o risco no grupo de expostos sobre o risco no grupo de não expostos. Se RR=1, ou seja, se o risco no grupo de expostos for igual ao risco no grupo de não expostos, significa que não há associação entre exposição ao risco e o evento; se RR>1, ou seja, se o risco no grupo de expostos for maior que o risco no grupo de não expostos, há associação; e se RR<1, ou seja, se o risco for menor entre os exposto do que entre os não expostos, a exposição pode ser um fator protetivo em relação ao desenvolvimento do desfecho.


Exemplo: a taxa de letalidade por Covid-19, até junho de 2020 no Rio Grande do Sul, se consideradas todas as faixas etárias, foi de 2,3%. Porém, entre pessoas com mais de 60 anos a taxa de letalidade era de 11,6%. Então, se fizermos a razão entre o grupo exposto (pessoas maiores de 60 anos) e o grupo de não expostos (população geral), obteremos 11,6/2,3=5,04, ou seja, o Risco Relativo é 5,04 (maior que um, indicando relação entre a exposição e o evento). Isso significa que o risco de morte por Covid-19 na população com mais de 60 anos de idade corresponde a aproximadamente 5 vezes o risco de morte na população geral.  


  • O Risco Atribuível ou Redução Absoluta de Riscos(RA) , se caracteriza por uma diferença entre riscos, ou seja , temos o risco da doença em indivíduos expostos e o risco da doença em indivíduos não expostos e a diferença entre esses riscos é o Risco Atribuível. Nesse caso a exposição se refere a uma medida preventiva, pois esse indicador tem o objetivo de medir o benefício potencial de uma medida preventiva.


Exemplo: A vacina Coronavac tem eficácia geral de 50,38%; ou seja, na população geral vacinada com a Coronavac, a redução do Risco Absoluto de contrair Covid-19 será de 50,38%. Considerando que o Risco Absoluto de contrair Covid-19 é de 5.020 em 100.000, ou aproximadamente 5%, a Redução Absoluta de Riscos será 2,5%.


Podemos afirmar que o conceito de risco é mais palpável, quantificável, em relação ao conceito de segurança. Este último diz respeito mais à nossa percepção, à sensação que temos de estar mais ou menos vulneráveis às ameaças. E muitas vezes tomamos escolhas que aumentam nossa sensação de segurança, ou seja, que aparentemente reduzem os riscos aos quais estamos expostos. Porém, nem todas essas vezes conseguimos avaliar quais são os riscos de fato, acessando e avaliando informações baseadas em evidências científicas que nos permitam colocar na balança e avaliar se realmente essas “medidas de segurança” que tomamos estão diminuindo os riscos reais aos quais estamos expostos. 

Um exemplo ilustrativo de medidas que tomamos para aumentar nossa sensação de segurança sem avaliarmos muito bem os reais riscos, é  adicionar pimenta em refeições para prevenir ou curar COVID-19. Aos amantes da especiaria, esse ato deixará a refeição mais saborosa , mas não curará e nem prevenirá do vírus, já que não existem estudos que validam sua eficácia contra o COVID-19. 

Ao acessar essa  informação, logo nos agarramos a ela para fazer escolhas, pois trazem uma “sensação de segurança”, por ser mais rápido, prático e natural, nos acalmando frente a esse cenário de calamidade, e esquecemos de  avaliar com mais cautela a se o uso da pimenta nos alimentos diminuiria as chances de contrair Covid-19 - em tempo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, até o momento as evidências científicas não nos permitem apoiar o uso de pimentas para prevenir Covid-19.

Quer ler mais mitos e verdades sobre Covid-19? Acesse essa página da Organização Mundial da Saúde, em espanhol. 







Fontes: 

 

1. Aspectos Técnicos, Metodológicos e Teóricos do Risco. In: CORRENDO o risco: uma introdução aos riscos em saúde. [S. l.s. n.], 2015. cap. 1.

PAINEL Coronavírus. [S. l.], 5 mar. 2021. Disponível em: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 5 mar. 2021.


CORONAVIRUS disease (COVID-19) advice for the public: Mythbusters. [S. l.], 23 nov. 2020. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public/myth-busters#pepper. Acesso em: 5 mar. 2021.


CONCEITOS básicos de epidemiologia e estatística para a leitura de ensaios clínicos controlados. [S. l.], 19 ago. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbp/v27n2/a15v27n2#:~:text=Redu%C3%A7%C3%A3o%20absoluta%20de%20risco%20(RAR,foi%20de%2024%2C1%25. Acesso em: 5 mar. 2021.

LETALIDADE da Covid-19 é 5 vezes maior em idosos no Rio Grande do Sul. [S. l.], 17 jun. 2020. Disponível em: https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/geral/letalidade-da-covid-19-%C3%A9-5-vezes-maior-em-idosos-no-rio-grande-do-sul-1.437683. Acesso em: 5 mar. 2021.


TAXA de eficácia geral da Coronavac é de 50,38%. [S. l.], 12 jan. 2021. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-01/taxa-de-eficacia-geral-da-coronavac-e-de-5038. Acesso em: 5 mar. 2021.


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