Neste post seguiremos abordando o tema riscos em saúde, mas agora da perspectiva genética. Faremos uma breve introdução ao tema e em seguida iremos abordá-lo de forma relacionada a Covid-19.
Quando falamos de riscos dentro de questões de saúde pública, geralmente predominam duas abordagens principais: ambiental e de estilo de vida. Os riscos relacionados aos determinantes ambientais existem independentemente das decisões individuais, diferente dos riscos ligados aos estilos de vida adotados(mencionados em post anterior:ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL NA PANDEMIA), que podem ser suprimidos, ou reduzidos com a mudança de comportamentos. Para além destes há os riscos internos ou riscos genéticos que indicam uma predisposição para o desenvolvimento de agravos a saúde que não se determinam por decisões. Todos esses diferentes aspectos da vida, onde se encontram os riscos à manutenção da saúde, estão entrelaçados, são camadas com maior ou menor grau de complexidade de relações porém iguais em importância enquanto fatores de risco. O modelo dos Determinantes Sociais da Saúde de Dahlgren e Whitehead ilustra essa rede dos aspectos da vida onde se encontram tais fatores.
A medicina genética proporciona a possibilidade de prever a ocorrência de doenças, a maior ou menor suscetibilidade a elas, porém não nos oferece mais do que um risco estatístico, pois não pode afirmar com certeza que os genes ditos "ruins" irão necessariamente se manifestar no corpo do indivíduo que os possui. E em caso que se manifestem, por exemplo os genes cancerígenos, não há consenso científico sobre medidas preventivas que podem ser adotadas, o que nos coloca questões bioéticas como, o que o indivíduo faria com essa informação e como ela afetaria sua qualidade de vida? O chamado essencialismo genético pode acabar reduzindo as pessoas a uma mera unidade molecular, deixando de levar em consideração toda uma rede complexa de influências sociais, históricas e morais que se relacionam em maior ou menor grau com a manifestação de certos genes.
Apesar de diversos problemas bioéticos decorrentes do estudo sobre os riscos genéticos e de sua aplicação, a genética pode nos ajudar a buscar por algumas respostas que a ciência ainda não pode encontrar. Um exemplo atual são as mortes por covid-19 de pessoas jovens, saudáveis, sem comorbidades. A comunidade científica mundialmente está buscando por entender como o coronavírus funciona, se desenvolve e afeta os corpos humanos. O patologista Paulo Saldiva que coordena as autópsias do Serviço de Verificação de Óbitos da Capital da Universidade de São Paulo(SVOC), participa de um estudo na USP que encontrou relações entre tipos sanguíneos e o desenvolvimento da forma mais grave da covid-19. O estudo achou que nas pessoas com tipo sanguíneo A, há um aumento de 45% na chance de precisar de um respirador e no tipo sanguíneo O negativo, se encontrou uma associação com menor risco de infecção e também menor risco de desenvolver a forma grave da doença. O artigo "Analisando características da rede genética gerada por genes vinculados ao Covid-19", citado abaixo, de 2020, já apontava o mapeamento de 94 genes expressos no corpo humano que estavam associados ao desenvolvimento da doença por coronavírus.
Então quando falamos de risco genético devemos estar atentos para não cair em uma espécie de "fatalismo","determinismo" genético, como se somente possuir certos "genes ruins" garantissem o desenvolvimento dos fenótipos ou características "ruins". Como o modelo dos Determinates Sociais da Saúde mostra, o aspecto bioquímico é a primeira camada somente, que se relaciona com todas as outras camadas. Mas não podemos menosprezar seu grau de importância.
Autoras: Yasmin e Ana Augusta
Referências:
A GENÉTICA DA COVID E OS 400 MIL MORTOS. [S. l.], 29 abr. 2021. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/genetica-da-covid-e-os-400-mil-mortos/. Acesso em: 10 maio 2021.
SEUS genes podem definir quanto o coronavírus vai afetar seu organismo. [S. l.], 29 mar. 2020. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/03/seus-genes-podem-definir-quanto-o-coronavirus-vai-afetar-seu-organismo.html. Acesso em: 10 maio 2021.
3.RISCO e Genética. In: CORRENDO o risco: uma introdução aos riscos em saúde. [S. l.: s. n.], 2015.
CARNIVALI, Gustavo. Analisando características da rede genética gerada por genes vinculados ao Covid-19. InterAmerican Journal of Medicine and Health, v. 3, p. 1-7, 2020.
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