Pandemia da Covid-19 e um Brasil de desigualdades
Dar voz ao povo é fundamental para a
implantação de políticas públicas que se aproximem da necessidade das pessoas.
Políticas que atingem os idosos precisam ser feitas com os idosos, ninguém
pergunta a voz do idoso, o que ele precisa, o que quer. Esse deveria ser o
papel fundamental do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (CNDI) que,
no entanto, sofreu intervenção vertical em junho de 2019, deslegitimando-o. O
ILC lançou uma carta aberta ao CNDI1 incitando-o a atuar em consideração às
evidências científicas e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e,
alertando-o que restringir medidas de isolamento apenas às pessoas idosas e
mais frágeis deixará esses grupos mais expostos à pandemia. Indica ao Conselho
uma comunicação qualificada e de fácil compreensão para todos os idosos, aponta a necessidade de políticas no sentido
de reforçar a atenção primária em saúde, criar estratégias de monitoramento
remoto, garantir insumos de sobrevivência, oferecer suporte às Instituições de
Longa Permanência de Idosos (ILPIs),
apoiar os idosos que vivem em situação de rua, de apoiar os idosos que
cuidam de idosos, abordagem humanitária e cuidados paliativos. Reconhece que a
cultura do cuidado nas políticas de proteção social, pode mitigar o impacto da
pandemia, tanto do ponto de vista econômico como social. E conclama o CNDI a
ter uma postura de interagir e ouvir a sociedade civil de forma aberta e
transparente.
O envelhecimento populacional no Brasil é fato, mas ainda não nos coloca em uma situação demográfica próxima à da maioria dos países que já enfrentaram a pandemia. No entanto, é provável que o impacto da pandemia da Covid-19 no nosso país não seja o mesmo que na Itália e em outros países da Europa, em função de da mais alta prevalência de comorbidades. Especula-se ainda que as nossas condições climáticas distintas poderiam ter um efeito na interação do vírus com a população brasileira, mas por enquanto, não há evidências nesse sentido, o que exigirá esforços intensivos para o monitoramento epidemiológico do que está por vir. O certo é que as condições como vivem um contingente grande de brasileiros os coloca em situação de vulnerabilidade absoluta. Basta lembrar que 50% de nossas moradias não tem acesso a serviços de esgoto sanitário, 33 milhões de brasileiros vivem sem abastecimento de água confiável, em vários estados do norte e nas favelas Brasil afora até mais de 20% das moradias 3 ou mais pessoas vivem em um único cômodo. Ainda estamos longe do pico do contágio e a evidência até agora disponível indica que a demanda por serviços intensivos para os pacientes mais graves é semelhante ao apresentado nos países mais afetados pela epidemia no sul da Europa. Com eles compartilhamos uma cultura de convívio familiar mais próximo que, generalizando, as culturas orientais. Portanto, é imprescindível nos prepararmos para o impacto no sistema de saúde. Achatar a curva epidêmica é a decisão adotada na maior parte do mundo no sentido de reduzir a velocidade da transmissão e surgimento de casos novos e óbitos.
A UNATI/UERJ, alerta para o impacto sócio-econômico e seus efeitos nos idosos, no sentido da recessão e redução da renda. Esse desafio está sendo também enfrentado por outros países. No entanto, no Brasil, a desigualdade social extrema e a prevalência de pobreza e miséria impõem um sentido de urgência ainda maior. Seremos o primeiro país em desenvolvimento a enfrentar frontalmente tal desafio – a China não nos serve muito de exemplo dado às peculiaridades socio-político-culturais e por dispor de muito mais recursos financeiros e um governo que toma decisões sem as amarras de discussões abertas e amplas. Para nós, a implementação emergencial de políticas de proteção social é imperativa, o que vai requerer do governo ações imediatas para minimizar os efeitos econômicos e sociais priorizando o direito à vida acima da hegemonia dos interesses econômicos.
Questões como violência doméstica, abusos de toda ordem e o stress de cuidadores são todas meritórias de especial atenção. Nunca esquecer que o “lar” pode ser tão ou mais perigoso que qualquer outro lugar. Mas, quem é esse idoso que ficará mais protegido por estar em casa, possivelmente com um bom suporte familiar, financeiro e material? Obviamente há inúmeros idosos, considerando nossas desigualdades, que não conseguirão seguir as recomendações simplesmente porque não podem, não por não quererem. A exclusão, agravada pelos preconceitos que historicamente os afetam, como idadismo, racismo, homofobia, misoginia, impedem que tenham uma existência plena e a garantia de direitos. Falamos aqui dos idosos em situação de rua ou que vivem em casas em que muitas pessoas vivem em pequenos espaços impossibilitando o distanciamento social. A maioria deles necessita de cuidados específicos e centros de apoio e de cuidado.
Falemos também dos idosos negros que, em
muitos municípios do país, constituem a maior parte da população idosa, eles
que já terão sido discriminados e excluídos ao longo da vida. Ou dos idosos que
estão nas periferias das grandes cidades ou em pequenas cidades, na população
idosa rural desassistida que, muitas vezes, não têm sequer água para lavar as
mãos e perspectiva alguma de cuidados.
Falemos ainda dos idosos que vivem em
ILPIs, em torno de 1% da população idosa no Brasil, grande parte em situações
alarmantes. A maioria pertence à rede filantrópica, equipamentos da assistência
social que, em sua maioria, não possuem estrutura física e profissionais de
saúde para enfrentar a pandemia da Covid-19. Como garantir proteção desses
idosos e cuidadores através das normas de isolamento publicadas pela ANVISA5 em
instituições já tão carentes onde a maioria dos residentes é tão vulnerável.
Referencias.
ABRASCO, pandemia dacovid-19 https://www.abrasco.org.br/site/gtenvelhecimentoesaudecoletiva/2020/03/31/pandemia-do-covid-19-e-um-brasil-de-desigualdades-populacoes-vulneraveis-e-o-risco-de-um-genocidio-relacionado-a-idade/
CNN Brasil, Fiocruz-saude https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/04/28/fiocruz-explica-como-a-pandemia-atinge-grupos-mais-vulneraveis-no-brasil
POST REALIZADO POR:
NAZARENA BELÉN MARTINEZ MOLINA
MARTIN DANIEL BERMUDEZ
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